segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reflexão sobre a morte

"Não cai uma folha de uma árvore se essa não for a vontade divina", expressão comum para lábios e ouvidos cristãos. Hoje me surpreendi quando dirigia a fim de resolver questões cotidianas e uma folha adentrou a janela do carro atingindo sutilmente meu ombro, eu sorri, peguei a folha, e me senti em harmonia com o Universo. Longe de ter uma reflexão mística sobre o evento matutino, minha mente estacionou na observação de outras questões...
Somos seres afetivos, não estamos preparados para enterrar nossos mortos, não somos ainda capazes de compreender as tragédias, não há justificativa divina que amenize a dor de perder, e não há explicação divina que dê conta do impacto que determinadas situações provocam na sociedade.
A morte, entidade, sentimento, espírito ou fato, adentra nossos lares diariamente, seja essa nossa vontade, ou não, (como diria Caetano) e temos de lidar não somente com as questões factuais, quando o acontecimento nos envolve diretamente, como também acabamos por enfrentar, armazenar e em alguns casos reprimir seus atributos simbólicos, mesmo quando o acontecimento não dilacera a afetividade, basta que chegue a notícia.
Numa sociedade como a nossa, a informação é algo imprescindível, não se pode negar, mas o espetáculo é dispensável. Portanto embora seja necessária a informação sobre a tragédia, até mesmo por que isso envolve questões de solidarização que são necessárias à solução do problema, basta, não façamos disso um espetáculo, é preciso sobretudo, além de transmitir a notícia, que chega aos lares clara, real, em imagem e som, respeitar os mortos e suas famílias. Capturar a imagem de corpos cobertos com lona e familiares cumprindo seu rito final em torno do caixão, além de ser um desrespeito a dor alheia, alimenta sentimentos desnecessários.
Deixemos que as flores cumpram seu papel, que as velas queimem seu pavio, que as lágrimas rolem pela face, que a revolta contra deus e o mundo aconteça, que a justiça trabalhe com firmeza, que os responsáveis assumam o que tiverem de assumir, que nossos semelhantes se integrem à natureza. Em paz, sempre, em paz!