sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Na criação de um devaneio

No instante de um devaneio;
Em luz ofuscante
Explode a saudade de um tempo que não vivi,
Mas que está em mim
Meus olhos cegam para o mundo lá fora
E a lucidez do interior redireciona meu olhar
Vejo as nuances desse tempo,
Ouço seus sons naturais.
Iludo-me com a silhueta de uma mulher
Em longas e volumosas vestes
A ler um livro antigo sob a luz de um candeeiro,
Sinto a paz desse tempo
(Sabe-se lá se de pouca ou muita consciência)
Mas de modesta civilização,

Sabe Deus,
Aquele contrário aos prazeres,
Que as boas ilusões são de pouca duração
E ao levantar-me da cama vou até a janela...

Roncar de motores, luzes acesas, desorientação.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Homem-folha

O tempo implacável
passa de repente
A folha que no alto estava,
levemente, para no chão.
Qual será o destino da folha na terra?
Parte de um todo que é parte
de um Todo ainda maior...
A dinâmica da Natureza nos ensina
Mas não se aplica em nós no tempo propício
Por mais que se coloque as mãos na terra
Por mais que a chuva deslize pela pele
Por mais que o cheiro do verde invada nossas narinas
A integração só ocorre tardiamente
Quando não mais podemos refletir sobre ela...



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Um incrédulo em busca de sentido - Exercício nº 2

O que sou eu perante o mar, senão um grão. O que sou eu perante o Universo, senão uma partícula. Eu e a rocha na qual deposito minha matéria para contemplar, embora constituídos de elementos distintos,  nesse momento somos um,  ao menos prefiro eu acreditar que seja assim. Quanto ao "firme fundamento das coisas que se espera", tento confiar, que o sistema, que rege toda vida existente, continue a funcionar em nosso favor, que o limite que nos separa da lucidez absoluta mantenha-se intacto e que sobre algum espaço para as tão necessárias ilusões, que as pernas não vacilem no meio da longa estrada, nem tampouco encaminhem o corpo para a beira do penhasco do desespero. Que os desejos mantenham-se pulsantes e ativos e que sejam bem representados, para que possamos reconhecê-los e direcioná-los, deliciosamente.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Um incrédulo em busca de sentido - Exercício nº 1

Mas se  o desejo de quem vai fica, no ar ou em nós, precisamos rever algumas coisas. Primeiro, esqueçamos o domínio que temos sobre aquilo que brota em nós e que tomamos posse e  trancafiamos com chaves de quatro segredos no baú das ilusões. Depois, é preciso observarmos a dinâmica das relações, o que há do outro em nós e principalmente o que há de nós no outro. Cabe aqui uma intervenção, essas primeiras recomendações valem para a hipótese de que o desejo de quem vai permanece em nós...
Caso haja suspeita de que o desejo de quem vai paira no ar, e toca na superfície de tudo quanto existe, seja ser animado ou inanimado, é preciso que haja harmonia do ser que suspeita com as coisas do universo, um resquício de fé, e alguma criatividade para imaginar a cor dessa energia, seu tom, seu canal e seu norte.