domingo, 31 de março de 2013

Macabéa

E esse meu coração,apertado de existir, palpita para me provar que há algo que eu não domino e preciso respeitar. Isso é destino? Sei lá!
Um dia talvez eu acorde, sem aquela vontade de enforcar as manhãs, mesmo as ensolaradas e dignas de encantamento. Sem aquele desejo de duplicar, porque não é isso, e eu não sei o que é, melhor seria não desejar a conviver com essa dor de insatisfação e incompletude.
Acho que sou infeliz, não eu não acho, tenho certeza há tempos, e não é isso que me entristece, por incrível que pareça. O que me entristece é a falta de correspondência entre corpo e alma, que não é um problema exclusivamente meu, mas que dói em mim, que é um caroço inflamado.
Macabéa. Sim eu gostaria de ser Macabéa e ter a existência limitada por capas de papel. Eu poderia ter sido inventada.
Ser de carne complica as coisas, porque as vezes o apodrecimento se inicia antes da hora, e o odor abstrato que se alastra incomoda, porque a amargura dói nos ossos, porque acreditamos ter alma e não sabemos para onde ela vai quando o coração para de bater, quando o presente se torna passado e memória.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Vozes de amor (Experimentação)

"Vaga e indecisa palavra" - ( A definição de /amor/ na voz de algum dos narradores enigmáticos de Guimarães Rosa.)




Eu amo, e não quero dizer, mas eu amo. E amor não tem nada a ver com pinto, também, mas não necessariamente.
Amo e falo a quem devo dizer, e esse amor frutifica. Não estamos satisfeitos.
Eu amo, mas não me vejo no fundo dos olhos do outro, sofro, sofro, personagem de telenovela. Ah, Narcilene, você é  ridícula!
Amor, palavra morta, sem a letra T. T amo, para quê? Hein? Me diz. Faltou o R. Hã? Amor T.
Tivemos um filho e você se foi, definhei, me matei, já não existo, e você ficou. A cartomante me disse que meu futuro seria brilhante, que conheceria alguém. Não. Meu espelho se quebrou. Não suportei.
Acredito no amor, tenho fé, sigo o exemplo de Deus, que amou o mundo. E amo meus filhos, minha família, vou amar até morrer. Morrer?
É, morrer! Isso mesmo, todo mundo vai morrer. Por isso eu não amo ninguém, para quê? Vou perder meu tempo? Não, vou viver comigo mesmo, aproveitar meu tempo, cuidar de mim.
Quero alguém que cuide de mim, eu não dou conta,  e aviso logo, sou ingrata, egoísta, isso mesmo, uma vaca de tão egoísta, entendeu?  Então ok!
- Amor, teci uma colcha para nós! Você demorou...tudo bem, o inverno só chegou agora.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Paranóia

Paranóia
A vida

é?

Paranóia
Para quê?

Paranóia
Para ver

O outro lado de existir...

Paranóia

Para nóia?

sábado, 23 de março de 2013

O herói

Porra de vida! Sim, a vida é uma porra. No momento em que nascemos, literalmente. No viver cumpre-se o sentido pejorativo da palavra. PORRA.
Amanhece o dia, rotina regular. O sol se põe e vem a pancada, que  não me arrasa porque estou calejada. 
Não, eu não te conhecia, mas te observava, nos dizeres alheios eu te observava. Com meu repertório simbólico eu te observava, e do meu jeito eu amava você, a nossa irmandade, a nossa humanidade...
Agora me sinto hipócrita e negligente. Dona das causas, estudiosa das razões. Monte de merda que anda e fala, é isso que eu sou? Possivelmente? 
Acho que é isso, todos nós somos um monte de merda. MER-DA.
Perfume importado, roupinha descolada, nada disso me faz mais humana e perfeita do que você, do que o Paulão que beija e minha mão. Adoro o Paulão.
Minha mãe... diz que coração dos outros é terra que ninguém vai. 
A terra, você na terra. A Terra e você. O que é isso Deus do Mundo? O que é? 
Destino?
Sina?
Escolha?
A resposta se foi, com a existência marcada. O nó desse laço atado...sem explicação.
Não sei assimilar, elaborar...então para mim isso é desfecho. O herói se foi, dono de sua vida. Senhor de sua batalha. Dele. Dono do caminho que seguia. Caminho circular. 
Foi e voltou para o meio do caminho. E ninguém viu, ninguém pensou no não-lugar.


quarta-feira, 20 de março de 2013

Função emotiva barata

Decidi falar. Não sabia o que, não sabia por que, nem para que. Cheguei lá. E comecei. As palavras saindo...em fluxo. A caixa se abriu. Caminho circular... repetidos... cinquenta minutos... e a etapa do silêncio.
Quando a noite chegou, o cansaço venceu a batalha, sonhei. Não lembro de tudo. Algo/Alguém mencionava uma criança. A que eu fui? A que eu quis ser? A que eu estou criando em mim? Onde ela está? Não. Não está onde deveria.
Esse meu mundo, dentro-fora, distorcido. Essa minha voz muda-estridente, nada diz, senão o óbvio?
Aqui, nessa tela, onde esboço esses dizeres, calados, o tempo não existe. O momento de mim, comigo, e tudo o mais que me cerca, que me preenche e esvazia. O gosto por pronomes emotivos, os laços com o Romantismo. Talvez eu precise de um crítico ortodoxo para exorcizar essa leitura barata que fiz de Álvares de Azevedo em algum momento do passado, e que persiste em aparecer em minhas combinações de palavras.

- Saia dessa malha que procura pertencimento!

Não marcarei o retorno. Aparecerei um dia desses.

Nossos pronomes

Dia nublado. Esse amanhecer esbranquiçado se revelando em mim. Acordei sem ter o que dizer e no chuveiro tentei impedir que a água carregasse os fragmentos de sonhos que eu tentava juntar. O que isso quer dizer? Se não há voz, nada é dito. Desisto.  Ao sair,  prefiro observar o céu encardido, que ora pretende a alvura, ora ensaia o tom acinzentado; muito mais interessante.
No caminho, a cidade morta-viva, se movimenta, pois é preciso. Você e eu, estáticos, em nosso companheirismo calado, em nossas existências sincrônicas, interrompendo o silêncio conversamos trivialidades. Não. Isso não me incomoda mais do que o fato de que não sei ler você em minha vida. Passo horas de um tempo alheio a qualquer marcação, tentado encaixá-lo. Você está solto em mim. Junto com outras representações, iguais a você em gênero, diferentes em significado. E essa minha necessidade de significar. Não fosse ela, eu não sei...Seria melhor?
Malditos motins hormonais. Eu havia prometido não articular o amor em minhas seleções. E então, meus seios doem, o ventre parece uma bomba relógio. Em minhas ações a agressividade rinocerôntica precedente se torna a necessidade de um abraço seu. Querendo sem querer eu me entrego, e dormimos representando no físico aquele encaixe abstrato que eu tanto desejo.
Estamos aqui, você ocupado e tranquilo, como sempre. E eu brincando de inventar a nossa realidade.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Ser o mesmo (transgressão verbal)

Tempo do agora
Doce-Amarga ilusão
O tempo está a frente
Não sabemos

Não

O existir em carne
É existir agora e lentamente.
O Ser Essência
É observar qualquer coisa no mundo
E no mesmo instante não mais

Ser o mesmo.