quarta-feira, 20 de março de 2013

Nossos pronomes

Dia nublado. Esse amanhecer esbranquiçado se revelando em mim. Acordei sem ter o que dizer e no chuveiro tentei impedir que a água carregasse os fragmentos de sonhos que eu tentava juntar. O que isso quer dizer? Se não há voz, nada é dito. Desisto.  Ao sair,  prefiro observar o céu encardido, que ora pretende a alvura, ora ensaia o tom acinzentado; muito mais interessante.
No caminho, a cidade morta-viva, se movimenta, pois é preciso. Você e eu, estáticos, em nosso companheirismo calado, em nossas existências sincrônicas, interrompendo o silêncio conversamos trivialidades. Não. Isso não me incomoda mais do que o fato de que não sei ler você em minha vida. Passo horas de um tempo alheio a qualquer marcação, tentado encaixá-lo. Você está solto em mim. Junto com outras representações, iguais a você em gênero, diferentes em significado. E essa minha necessidade de significar. Não fosse ela, eu não sei...Seria melhor?
Malditos motins hormonais. Eu havia prometido não articular o amor em minhas seleções. E então, meus seios doem, o ventre parece uma bomba relógio. Em minhas ações a agressividade rinocerôntica precedente se torna a necessidade de um abraço seu. Querendo sem querer eu me entrego, e dormimos representando no físico aquele encaixe abstrato que eu tanto desejo.
Estamos aqui, você ocupado e tranquilo, como sempre. E eu brincando de inventar a nossa realidade.

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