quarta-feira, 3 de abril de 2013

Rua do Meio

Solidão e amargura não são sinônimos.
(A.O)



A sala estava vazia. Ele se levantou e calmamente tirou as molduras da parede, depois voltou  ao sofá e acendeu um cigarro. Observou os retratos um a um, não reconhecia aqueles rostos, ou se os lembrava, sabia, lá no fundo, que os havia acomodado em algum canto esquecido pela consciência. Aqueles rostos fizeram parte de um tempo que apodreceu, fedeu e que por isso não era mais digno de memória.
Sempre juntos, compartilhavam as loucuras, as angústias e o gosto por substâncias lícitas e  ilícitas. Com a fatalidade cíclica a  gratuidade virou éter, o que era livre passou a ser condicional. Vários caminhos se abriram. Nunca mais se encontraram.
Ultimamente vai ao bar as terças, toma Uísque sozinho e faz anotações para escrituras futuras. Volta para casa lá pelas tantas, prefere caminhar a tomar um táxi.No caminho sente o vento intruso do Outono e para durante cinco minutos para observar o espetáculo de morte e renascimento das árvores na Rua do Meio.


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